quarta-feira, 7 de abril de 2010

Um fim mas não exatamente um final.

Ela tombou de joelhos ali no meio do nada, o centro do mundo. Parecia que todo o ódio do universo tinha sido depositado nela. Lágrimas negras começaram a escorrer em seu rosto, a maquiagem ficando borrada... mais ódio. Ficar com muita raiva sempre a fazia chorar, considerava isso uma fraqueza. Mas não conseguia evitar, era muita dor, dor o suficiente pra destruir o mundo inteiro. Podia sentir todo o peso do mundo em sua alma que doia em cada minima partezinha, estava estilhaçada.
Olhou para o próprio braço, cicatrizes de desespero se destacavam na luz, achou que uma dor física amenizaria a dor lacinante em seu coração. Ajoelhada ali, sozinha sem ninguém pra fingir interesse ou afeto por ela, fez um juramento em nome de todo o universo "jamais amaria alguém da mesma forma, não sofreria mais por um sentimento tão corrosivo." Uma droga, essa era a verdade ela pensou. O amor é uma droga horrível, doce e cruelmente desejável. Desejou desaparecer do mundo, não sentia vontade de encontrar ninguém pois sabia que teria que pintar um sorriso no rosto e fingir que estava tudo bem. Tinha se tornado muito boa nisso, fingir um sorriso, ajudar os outros e dizer "Eu estou bem". Trocou o amor pelo alcool, quem poderia culpa-la? Toda maldita noite, após se deitar se sentia como a última pessoa do mundo, sem amor, sem nada. Não dormia, e quando conseguia era assombrada por memórias boas, por sonhos bons que na realidade eram terríveis pesadelos, assim ela percebia quando acordava aos gritos, o som do desespero. Em sua casa, já não acordavam mais durante a madrugada para ver se tinha acontecido algo. Só dormia bem quando chegava em casa tarde da noite tão bêbada que mal conseguia parar em pé, caia na cama com a roupa do corpo, se agarra aos seus vários bichos de pelúcia e dormia quase instantaneamente, não antes sem pensar no rosto dele pelo mais breve dos momentos e apagava, escuridão, uma noite sem sonhos. No dia seguinte, abria os olhos e chorava por uns 15 minutos antes de levantar, se olhar no espelho, xingar seu próprio reflexo e perguntar a um Deus que nem sabia se existia, e pra falar a verdade nem acreditava: porque isso tá acontecendo comigo? porque eu to assim, tão destruída? eu mereço isso mesmo? por que eu nunca consigo o amor verdadeiro? porque ele me abandona toda maldita vez?. E assim, se retirava voltava pra bolha que havia criado, talvez uma alegria real durante todos os dias mas nunca felicidade. Ninguém via, ninguém percebia nada. Mas tava tudo bem, ela começou a aprender ter como companhia apenas a dor, momentos de alegria extremamente bons e seus pensamentos, nada mais que isso. Não conseguia suportar a companhia de uma pessoa por muito tempo, era como se as pessoas tivessem prazo de validade pra ela, depois ela tinha que se esconder e ser ela mesma, sentir o que era verdade dentro dela, se afastar da poluição que agravava ainda mais as feridas que ficariam abertas pra sempre em seu coração, sua alma.
Jamais mudaria o jeito de ser, sua maior qualidade era também sua desgraça. Amava com todas as suas forças, sempre que se apaixonava sem querer colocava um peso enorme nos ombros da outra pessoa e a mesma se assustava e ia embora, decepcionada mas sempre cheia de esperança, respirava esperança... sofria é claro, mas seguia em frente. Só mais tarde percebeu que na verdade nunca chegou a algum lugar porque seguiu em frente mas não saiu do lugar. Seu último sentimento, podia senti-lo, enxergá-lo e até mesmo tocá-lo, puramente verdadeiro, inocentemente puro. Estava trancado no lugar mais calmo e belo de seu coração, não abriria até que o possuidor das chaves viesse e abrisse com as palavras, os olhares e o que fizesse dele merecedor de algo tão maravilhoso.
Ela levantou, olhou pro céu e ficou assim por incontáveis minutos. E então mais uma vez foi em frente, por uma última vez ela ia seguir em frente e se perder no labirinto que ela mesma criou pra si. Mas jurou que voltaria e ia vê-lo mais uma vez.

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